
O especialista em economia do Insper, Roberto Dumas, classificou o tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil como um episódio “extremamente complicado”. Em entrevista ao programa WW nesta segunda-feira (28), Dumas criticou a postura do governo brasileiro, comandado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmando que a gestão federal tem priorizado interesses eleitorais para 2026 em vez de buscar uma solução efetiva para o conflito comercial com os Estados Unidos.
Segundo Dumas, enquanto o governo americano pressiona e impõe suas demandas, mesmo com riscos à própria economia, Lula estaria mais preocupado em “patrioteamento” político e em usar a situação para angariar apoio eleitoral, o que dificulta as negociações.
“Lula está jogando o abacaxi para os empresários e para o vice-presidente Geraldo Alckmin. Em vez de focar numa política externa estratégica, ele está fazendo política interna, tentando ganhar votos para 2026”, declarou o professor.
O economista também criticou a incapacidade do governo brasileiro de abrir canais efetivos de diálogo com a administração Trump, o que tem gerado insatisfação no setor privado e entre membros da oposição.
“Lula age como líder de governo, não como líder de Estado. Usar sempre a desculpa de ‘Bolsonaro, Bolsonaro’ pode até ajudar na popularidade dele no curto prazo, mas não vai resolver os problemas no longo prazo”, avaliou Dumas.
Desalinhamento político e impactos para o Brasil
Dumas ressaltou que o distanciamento crescente entre Lula e Trump, evidenciado por posicionamentos como o apoio aos Brics e a defesa da desdolarização, tem prejudicado as chances de o Brasil avançar nas negociações comerciais.
“O Brics foi o ‘pomo da discórdia’ para Trump. Só o Brasil falou abertamente sobre desdolarização, o que causou desconforto nos EUA”, explicou.
Comércio Brasil-China e limitações no mercado chinês
Sobre a relação comercial com a China, principal parceiro econômico do Brasil, Dumas chamou atenção para a necessidade de diversificação dos parceiros comerciais.
“É um equívoco pensar que o Brasil pode simplesmente aumentar as exportações para a China. O país já é o maior destino das nossas commodities, mas vender produtos industrializados é outra história. Isso nunca se concretizou em duas décadas”, destacou.
Apesar das promessas chinesas de apoio diante do tarifaço americano, Dumas aponta que o investimento chinês no Brasil tem foco estratégico, especialmente em infraestrutura e tecnologia para a transição energética, e alerta para a possibilidade de influência política chinesa no país.
Riscos da política comercial de Trump para os EUA
O professor do Insper também analisou os riscos internos que a política protecionista de Trump pode trazer para os Estados Unidos, incluindo o aumento do déficit fiscal e a tensão com o Federal Reserve.
“A tarifa não resolve desequilíbrios macroeconômicos. E o orçamento americano, com cortes de impostos previstos, deve agravar o déficit trilionário do país. Isso pode gerar problemas para a economia americana nos próximos anos”, concluiu Dumas.