
Copom destaca incertezas externas e monitora impactos do tarifaço de Donald Trump sobre economia brasileira
O Banco Central (BC) decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, encerrando oficialmente o ciclo de alta dos jurosiniciado em 2022. A decisão foi tomada de forma unânime pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (30), em linha com as expectativas do mercado.
Esse é o maior nível da Selic desde maio de 2006 e sinaliza a permanência de uma política monetária contracionista prolongada, mesmo diante de incertezas no cenário internacional e pressões inflacionárias internas.
Fim do ciclo de aperto monetário
No comunicado divulgado após a reunião, o Copom afirmou que a pausa no aumento dos juros serve para observar os efeitos acumulados da política monetária até agora. Ainda assim, o comitê deixou claro que poderá retomar o apertose considerar necessário para garantir a convergência da inflação à meta, atualmente fixada em 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
“Seguiremos vigilantes e não hesitaremos em ajustar a política monetária, se necessário”, destacou o comitê.
Incertezas externas: foco no tarifaço dos EUA
O Copom chamou atenção para o ambiente externo mais adverso, especialmente após a assinatura, pelo presidente Donald Trump, de um decreto que eleva tarifas sobre produtos brasileiros em até 50%. A medida, que entra em vigor em 6 de agosto, preocupa o Banco Central por seus possíveis reflexos sobre inflação, câmbio e crescimento.
“O comitê acompanha com particular atenção os desdobramentos da política comercial dos EUA, em especial o impacto do tarifaço sobre a economia brasileira”, afirmou o BC.
Apesar de mais de 700 produtos terem ficado isentos da alíquota máxima (incluindo petróleo, celulose e aviões da Embraer), itens estratégicos como carne e café foram diretamente atingidos.
Possíveis efeitos no mercado interno
Uma das preocupações do BC é que os produtos destinados à exportação possam ser redirecionados ao mercado interno, o que aumentaria a oferta e poderia pressionar os preços para baixo — efeito deflacionário de curto prazo, mas com riscos de instabilidade futura.
Principais riscos de alta e baixa na inflação
Riscos inflacionários (alta de preços):
- Desancoragem das expectativas de inflação por mais tempo;
- Resistência da inflação de serviços, mesmo com crescimento moderado;
- Cenário fiscal e cambial interno e externo com efeitos inflacionários inesperados.
Riscos deflacionários (queda de preços):
- Desaceleração econômica mais forte que o previsto no Brasil;
- Enfraquecimento do comércio global, agravado por incertezas geopolíticas;
- Queda nos preços das commodities, como alimentos e energia.