
O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, comentou nesta segunda-feira (7) a recente declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de uma tarifa extra de 10% a países que se alinharem às chamadas “políticas antiamericanas” do Brics.
Em entrevista à CNN, Amorim tratou o assunto com leveza e ironia:
“Não sofri nenhum impacto. A primeira coisa que me veio à mente foi uma expressão americana: ‘who’s afraid of the big bad wolf?’ [‘Quem tem medo do lobo mau?’]. Não fizemos nada contra os Estados Unidos.”
No domingo (6), Trump afirmou que qualquer nação que apoiar o Brics em suas políticas “antiamericanas” será alvo de tarifas adicionais. No entanto, ele não explicou que ações ou posições seriam consideradas nessa categoria.
Amorim avaliou que impor uma taxa extra ao Brasil seria contraproducente:
“Seria um tiro no pé. O Brasil está aberto ao diálogo com os Estados Unidos, sempre com base nas normas e acordos multilaterais do comércio.”
Segundo o assessor, Trump pode rever a postura com o tempo:
“Acredito que, com pragmatismo e racionalidade, o próprio presidente americano vai perceber que esse não é o caminho mais adequado. Principalmente em relação a países amigos, que não tomaram nenhuma atitude hostil.”
Risco ao multilateralismo
Amorim também expressou preocupação com os impactos dessas ameaças sobre o sistema de comércio global. Segundo ele, o foco em retaliações e tarifas unilaterais pode enfraquecer o multilateralismo e favorecer acordos bilaterais isolados — o que, segundo ele, prejudicaria a todos.
“Se a regra for ameaçar e taxar, os países vão buscar alternativas. Isso tende a isolar quem adota essa postura e fortalecer a cooperação entre outras nações.”
O que é o Brics
O Brics é um bloco de cooperação internacional composto atualmente por 11 países, incluindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — os membros fundadores. Desde domingo (6), o Brasil sedia a cúpula anual do grupo, no Rio de Janeiro.
Criado formalmente em 2009, o grupo original (BRIC) surgiu da sigla formulada pelo economista inglês Jim O’Neill, que identificou essas economias como potências emergentes. Em 2011, a África do Sul foi incorporada, tornando-se o “S” da sigla.
Hoje, além dos membros permanentes, o Brics mantém relações com outras dez nações parceiras. Juntos, os países do bloco somam um PIB combinado de aproximadamente US$ 24,7 trilhões, além de ocuparem grandes territórios e abrigarem parte expressiva da população mundial.